segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O João e a Maria

Estava lendo por aí e encontrei um texto muito bom em um blog que adorei, Dedo de Moça, de uma jornalista da Folha de Londrina. Vou dividir porque acho que muitos vão concordar com o que está ali:


João é um cara super legal.
Extrovertido, cheio de amigos e, principalmente, amigas.
Sua vida é simples e boêmia, pois nunca perde a oportunidade de tomar aquela cervejinha com os companheiros.
Alvirrubro doente, não passa um jogo a que ele não assista.
Vai pro campo de camisa, bandeira, pinta a cara e veste peruca.
Fica dias de mau-humor quando o time perde e comemora como um louco as vitórias.
João é assim, um cidadão do bem.
Não fala mal dos outros, mas se antipatiza com alguém, não faz a menor questão de disfarçar.
Sem ser grosso, claro.
A mulherada adora João.
Também, quem não gosta de um cara assim?
Cheio das amigas, sempre as cumprimenta com um abração.
Algumas ele fica, outras já ficou e tantas outras ainda pretende ficar, mas sem estresse.
Apesar de lindo, João não faz o tipo galinha.
Tanto que, por trás desta vida cheia de farra, ele sente a maior falta de uma namorada.
Mas tem que ser assim, alguém tão gente boa e sem frescura quanto ele, do contrário, ele cai fora.

Do outro lado da cidade está Maria.
Ela bebe cerveja, assiste ao futebol nos bares da cidade e ainda berra palavrões se a defesa do seu time deixa passar uma bola.
Inteligente, bonita, independente...
Maria é o que podemos chamar de mulher moderna.
Seu telefone não pára de tocar com convites pra sair, viajar, bater um papinho regado à cerveja.
Maria tem um gosto eclético para uma mulher.
Além de futebol, curte filmes violentos e de ficção, como também, shows de rock.
Ela conta piadas sacanas e detalha sua vida sexual
pras amigas, que rolam de rir e retribuem, cada uma com suas respectivas aventuras.
Não faz pose de santinha e nem fica chocada quando ouve aquelas conversas tipicamente masculinas.
Amigos homens ela tem aos montes, apesar de ser uma gata supervaidosa, seu jeito maloqueira-chic deixa todos à vontade para... só amizade mesmo.
Claro que alguns ela já pegou, outros ela pega e outros ela ainda vai pegar.
É, porque Maria é quem pega, e não o contrário.
Apesar de adorar essa vida, ela sente falta de um cafuné, de aprofundar uma relação, de pensar num futuro.
Mas, como todos os mortais, tem lá seus traumas e receios.

De repente, num mágico dia de sol, João e Maria se esbarram, se agarram, ficam de rolo, transam, começam a namorar, casam, fazem filhos e vivem felizes para sempre!
Ah... como seria bom se a vida fosse assim: romântica e perfeita.

Mas, infelizmente, não é.
O que parecia ser a relação ideal se transforma num verdadeiro inferno.
João se escandaliza com a quantidade de álcool que a namorada bebe sem ficar alterada, não admite que ela fale nomes feios, e chama as amigas dela de raparigas.
Por outro lado, Maria não suporta a maneira íntima como ele trata as próprias amiguinhas. Quando algumas delas aparecem, Maria faz cara feia e diz que todas são putas e querem agarrá-lo.
Aí você deve estar pensando: mas pelo menos eles estão vendo os jogos do Campeonato Brasileiro juntos.
Que nada!!!
Ela não se interessa mais por futebol.
Gostava mesmo era de ir aos bares ver os caras nervosos, berrando e exalando testosterona.
E o que é pior, não quer ir e ainda implica quando o namorado diz que vai com os amigos.
Pro coitado comparecer ao campo, então, é um inferno.
A cerveja depois do jogo, e em qualquer outro horário, virou lenda.
É então que o cara começa a ceder pra evitar confusão, pois nessa altura do campeonato ela já o proibiu de sair com a rapaziada, e justifica dizendo que são todos um bando de cachaceiros e mulherengos.
O sexo e a esperança de que a relação volte a ser como era no início são as únicas coisas que seguram este casal.
Ela coloca a culpa nele e ele, nela, mas o que ninguém percebe é que ambos destruíram a relação.
Mas como a coisa chegou a este ponto sem que ninguém percebesse?
Eles ficam se perguntando.

A resposta pode ser mais simples do que se imagina, basta que cada um responda com total sinceridade às perguntas abaixo:

1- Por que a pessoa muda de personalidade quando começa a namorar, se o que atraiu o outro foi justamente quem você era no início?
2- Por que você obriga o outro a mudar de personalidade se foi essa a pessoa por quem você se apaixonou?
3- Por que as características que você acha tão legais nos seus amigos, são os maiores defeitos do seu parceiro?
4- Por que o cotidiano do casal tem que mudar completamente ao começar uma relação, ao invés de permanecer o mesmo e o novo namorado apenas ser, especialmente, inserido na sua rotina, sem criar grandes abalos?
5- Por que acreditar que todas as mulheres do mundo querem pegar seu namorado, como se ele tivesse se tornado a mais nova celebridade no dia em que vocês oficializaram a relação?

O sentimento de posse, de propriedade toma a pessoa de uma forma descontrolada e a fantasia da relação maravilhosa do início faz com que os parceiros cedam.
Cedem porque não agüentam a pressão, para evitar briga ou até mesmo, por medo de perder.
Mas, no fundo, guardam a esperança de que tudo vai voltar a ser como era antes...
E esta mesma ilusão faz com que nenhum dos dois tome a decisão de terminar.
É mais fácil fingir ser quem o nosso parceiro quer que sejamos.
Ser uma pessoa na frente do namorado e outra quando se está na companhia dos amigos.
Mas fingir ser quem não é, irrita, incomoda, dá crise de identidade...
É então que começa a nascer uma raiva, um abuso da outra pessoa e até de si mesmo.

Seus olhos passam a enxergar novos horizontes e, de repente, trair não parece ser tão errado, nem difícil, afinal, quem garante que o outro já não está fazendo?

E com essa desculpa a pessoa sai chifrando sem sentir culpa.
Anos e anos depois, dois seres apaixonados e apaixonantes não mais se reconhecem e um certo dia, a bomba explode.
Solteiros novamente passam a ter aversão a namoro ou qualquer tipo de relacionamento que lembre aquela coleira usurpadora de liberdade e personalidade.
Relações casuais, sem cobranças e satisfações tornam-se ideais, mas o preço que se paga pela superficialidade é um pouco caro: não se vive grandes e loucas paixões, não há entrega, nem sonho, nem sexo com amor.
Há apenas aventuras sexuais.

Tudo isso, porque não conseguimos respeitar e amar o outro do jeito que ele é....


E aí, eu concordei, e vocês?

4 comentários:

  1. Nossa, Ana, mais fiel impossível! Passa o link do blog, quero fuçar também! Beijoo

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  2. Muito bom o texto. Fidedigno.
    O problema é a questão de achar que o outro é propriedade.
    Acho que um dos maiores erros é não saber lidar
    com a insegurança. Outro ponto também é a liberdade, não é porque você está junto da outra pessoa que não ser sozinho. Ser casal também é ser individual.
    É fácil pontuar, difícil é não acabar como o João e Maria.

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  3. Nossa, super me identifiquei com a Maria!
    hahahahahhaa
    mais sempre, tem todos os relacionamentos, querendo ou não mudamos um pouco...
    mais não podemos mudar completamente.
    tenho um caso de uma amiga, que depois de começar a namorar, mudou completamente, ao ponto de fingir que as amigas não existem!

    há que balancear as coisas na minha opinião...

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  4. Como já diria a Carrie, há que balancear, ehehe.

    Difícil...

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