terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Que a cura dure mais que um verão



Conviver com uma doença que não tem cura e da qual todos têm medo, preconceito, é para poucos. Porque poucos conseguem lidar com a questão de ter prazo de validade, de estar mais perto da morte. Porque pouquíssimos são aqueles que passam por cima do preconceito. Afinal, a Aids já foi doença taxada. De homossexuais, de prostitutas, de gente que ‘não presta’. Mesmo hoje, com o vírus generalizado – atingido todos os gêneros, idade e classes sociais (embora ainda seja maior a incidência em pessoas de classes menos favorecidas), Aids ainda é coisa de gente promíscua, de gentinha. E o medo de contraí-la é maior, porque além de ser doença cheia de tabus, é – era – uma patologia sem curas, sem expectativa de vida para os soropositivos. Mas, essa semana, isso mudou . Há esperanças. Há, quiçá, uma cura.

Quando vi a capa da revista Época - ali em cima -, fiquei até arrepiada, porque depois que você está mais perto daqueles que possuem o vírus, que vê e até mesmo sente um tanto da realidade deles: de exames frequentes, de cuidados generalizados e diários, de remédios, de gripes que podem ser fatais, de isolamento devido ao preconceito. A possibilidade de uma cura choca, pois com ela muitas vidas podem mudar. São muitas pessoas que podem, enfim, resgatar a dignidade, a autoestima perdida. Resgatar a vida. Afinal a morte, com uma cura, fica para mais tarde, mais distante.

E essa provável cura me fez lembrar do filme “Tempo de despertar”, com o Robert De Niro e Robin Williams. É um filme muito bonito - embora triste - , que retrata o ‘despertar’ de pacientes catatônicos mediante um determinado medicamento. Durante o verão de 1970 – se eu não me engano – os autistas conseguem sair de si mesmos, interagindo com as pessoas, articulando as palavras adequadamente e até os movimentos repetitivos, que os autistas e catatônicos costumam ter, cessam. Tornam-se pessoas ‘normais’. Mas, o verão acaba e começam os efeitos colaterais. Descobre-se que a cura não era, definitivamente, uma cura. Aos poucos, eles voltam a ser prisioneiros deles mesmos, voltam a ter problemas de comunicação, socialização e de comportamento. E até hoje não existem remédios eficazes para autista, para catatônicos...

Então, fica aqui meu desejo de final de ano: que esta cura da Aids de fato seja a cura. Que dure mais que um verão. Lembro também que Aids e autismo são patologias bem diferentes. E que os problemas relacionados ao cerébro humano ainda são uma grande incógnita. As pesquisas começaram ontem. Então, acredito, que a cura para os soropositivos aconteceu, finalmente..
Abaixo o trailer do filme, que é baseado em fatos reais. Vale a pena ver.



Um comentário:

  1. Verdade, Lari. Que a cura seja definitiva. Que a luz no fim do túnel seja mínima, pequena, pequena. Que os soropositivos possam ser mais felizes. Mas que todos lembrem que previnir ainda é o melhor remédio.

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