terça-feira, 9 de março de 2010

Não passa, tempo



Funciona assim, já me contaram: um dia eles crescem.

Mas, já me falaram, também, que é praticamente impossível se acostumar com isso (provo do gostinho amargo - e doloroso- da independência dele na prática, como boa possessiva que sou).

Com a mochila nas costas e um sorriso matreiro no rosto branco contornado por cabelos da cor do suco de limão, ele se despediu e saiu de mãos dadas com a professora. Naquele aceno e na visão dele entrando na sala de aula percebi que aquele pedacinho de mim já não era mais tão meu, mas um pouco do mundo também.

Doeu.

Chorei.

Tive medo e a cabeça povoada por inúmeras dúvidas.

Por fim concluí que é a vida, se apresentando em sua maneira mais clássica. Não preciso me assustar, eu sei. Nasci, cresci, reproduzi e agora envelheço, para um dia desses (sabe-se lá qual sorte me reserva) vivenciar o derradeiro fim. É simples, mas complicamos. Ele, que vive o mesmo ciclo, não pode envelhecer?

Não, não pode, respondo rápido.

E quando chegar a escola de verdade, as festas, as namoradas e for a vez dos meus cabelos ficarem da cor do suco de limão? Apesar da resposta infantil de Peter Pan, foi sendo mãe que eu me emancipei mulher e que aprendi que a vida, sim, pode ter um lado bom – ou vários (basta procurar novos ângulos). Nenhuma outra responsabilidade fez com que aprendesse tanto e tivesse prazer nisso, mas com o tempo passando, a idade correndo e ele crescendo, queria poder parar um pouquinho.

Só um pouquinho mais para nós dois.

O tanto suficiente para eu tomar fôlego e voltar a correr com o tempo, esse tempo que não perdoa a mim nem a ele. Nem a ninguém.

8 comentários:

  1. Que lindo Graaaaaa!
    Amei, amei...
    E, bom, esse tempo é cruel mesmo. Mas a gente acaba se acostumando, mesmo a contragosto. E com os novos ventos vêm novas aventuras, novos bons momentos.
    E a vida vai se desenrolando assim. Uma sucessão de segundos que não param. E que são bons, perfeitos. Mas ruins, porque não ficam, também. Boa sorte nessa nova fase. Precisando, to aqui. Sempre!

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  2. Lindo Graci...

    É, o tempo é cruel...
    me lembro com nostalgia da minha infância com a lari!
    Pedalavamos por toda cidade, sem medo, só pra se divertir... hj cheias de compromissos não vemos o tempo passar! E que tempo malvado...
    ai saudade de minha infância!

    "os filhos nascem dos pais, mais são filhos do mundo!"
    é duro, mais o tempo passa pra todo mundo, infelizmente!

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  3. Meu Deus que texto maravilhosooo!!!
    Me emocionei por aqui Dona Graci...
    Mas assim... é bom olhar o tempo nessa perspectiva e poder aproveitar cada segundo que se passa, fotografar momentos em nossa mente e depois quando você já tiver um adolescente amigo em casa poder sentar com ele e rir das lembranças do passado como velhos e bons conhecidos que se amam...

    Ah... Você é linda, meu... Pago um pau...

    Lindaaaaaaaaaaaaaaaaaa

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  4. Graci, quanta beleza nessas palavras.
    Lindo, lindo!

    Por vezes seria confortante se conseguíssemos parar o tempo e viver determinados momentos com mais intensidade e tendendo à eternidade. Por outro lado, esperamos que o tempo corra, voe. Aquele relativismo que eu sempre comento... hehehe

    Este é o seu pimpolho dos cabelos cor de suco de limão? Fofura!

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  5. É o Totonho sim, Maju. Vendo o mar pela primeira vez.

    É lindo, né?
    E eu me derreto toda, né?

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  6. Quem não se derreteria?
    Eu lembro de você com barrigão, de você cuidando daquele bebê fofo e polaco. E hoje ele está aí, grande, indo para a escola...Perfeito seu texto Graci.
    Eu sei que você sabe muito bem aproveitar seu filho, mesmo com o tempo voando. ;)

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  7. Nossa..que texto lindo Graci!

    Aproveita bem, pq ele será com certeza um moço de muitas mulheres aos pés..lindo demais! ;)

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  8. Querida Graci, seu texto reflete um sentimento comum à todas mães: porque eles crescem?
    .
    Posso te contar um segredo?
    Se você souber "ser" "mãe de verdade" vai descobrir que depois, fica ainda melhor.
    .
    Tudo bem, tudo bem. Um dia ele vai olhar pra você e dizer: "Mãe, já tenho dezoito anos. E você nem me sustenta mais". Ou algo do gênero. E o choque vai ser grande. E você vai pensar que ele ainda podia ser aquele menininho fofo de cabelos cor de limão que corria de sorriso aberto pros seus braços... mas aí, ele vai contar pra você seus sonhos, ele vai ser um bom aluno, ou um bom atleta, ou melhor ainda, um ser humano que mereça este nome, e sabe o que vai acontecer com você? Você vai pensar como Deus é bom, como Deus é grande, e como caracas seu filho é a melhor pessoa que você conhece no mundo!!!! E como é que esta pessoa tão especial saiu de dentro de você? E como é que, crescendo com você (a gente é limitada), conseguiu ser esta pessoa tão especial???
    .
    Pois é, Graci querida. Acredite em mim: vai ficar muito melhor.
    :)

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