sexta-feira, 5 de março de 2010

O aborto, e eu lá em cima do muro

As discussões a respeito do Programa Nacional de Direitos Humanos III (PNDH III) não cessam. Críticas ao novo programa não faltam. Apontam-se questões negativas, principalmente, para os assuntos que dizem respeito à democratização da propriedade e dos meios de comunicação, à revisão de leis do período da ditadura militar, à união civil entre pessoas do mesmo sexo e à descriminalização do aborto. Sou favorável às posições que o PNDH III defende acerca dos pontos que acabei de citar. Mas tem um tema que ainda me deixa em cima do muro, o aborto.
O presidente Lula já se posicionou, adiantando que a descriminalização do aborto prevista no PNDH não expressa a sua opinião. Ok, eu coloco o meu tico e teco para funcionar e...nada. Continuo em cima do muro. Na verdade eu acreditava ter uma opinião formada a respeito, sempre me posicionei a favor da legalização do aborto, além das instâncias de estupro e riscos de vida da gestante – que já é garantido por lei. Parei para pensar nessas adolescentes grávidas, que fazem um filho atrás do outro e acabei subindo o muro. Era justamente pelas adolescentes que eu me dizia a favor da legalização.
Na minha ignorância e na tentativa de contribuir para um mundo melhor, acreditava que se as 485,64 mil meninas que engravidam por ano pudessem escolher entre ter o não o bebê, a vida delas poderia tomar outro rumo. Uma opção a mais para quem engravida aos 13 anos, faria diferença. Talvez a menina não tentasse fazer um aborto clandestino, que é o que maioria acaba ou tenta fazer. Talvez não encomendasse aquele remedinho que vendem ali na fronteira, porque é proibido por aqui, ou então não daria à luz a um filho que, na maioria das vezes, não é bem vindo. A legalização pouparia a criança de sofrer.
Eu gosto da legalização também porque é um direito da mulher, na minha opinião, de decidir se quer ou não ir adiante com uma gravidez indesejada – que na maioria das vezes é indesejada pelo casal. Penso nas inúmeras mulheres que engravidam sem desejar e depois jogam seus filhos no mato, no rio ou no vaso sanitário - como aconteceu no final do ano passado em Cascavel/PR . Penso que se o aborto fosse legalizado, crimes como estes não aconteceriam. Talvez.
Eu desacelero meu raciocínio a respeito da legalização do aborto quando me deparo com a questão da vida. Quando eu e você somos gente? Na fecundação? Na barriga? Fora da barriga? Eu não sei responder. Se o aborto for legalizado vai diminuir o índice de gravidez precoce? Haverá menos mulheres perturbadas, infelizes? Menos crianças que sofrem? Uma parte de mim diz que sim e a outra responde, enfaticamente, que não. Pode ser que piore a situação, o ato pode se tornar banal. E aquela garota que teria 3 ou 4 filhos de homens diferentes? Com a legalização ela faria 3, 4 e até 5 abortos. Quantos abortos se fazem por mulher? Quantos abortos alguém consegue fazer, assim, de consciência limpa? Neste caso as crianças seriam jogadas no mato, no lixo ou no vaso sanitário antes de nascerem. É crime também?
Penso na legalização do aborto para pessoas responsáveis, não para qualquer pessoa. Como identificar a pessoa responsável? Eu tenho certeza que tem mulher que vai achar que ir à clínica de aborto é como ir até a padaria. Conheci uma garota com seus 20 e tantos anos, já tem 2 filhos de pais diferentes e 3 abortos no currículo. Parece boa mãe, apesar dos filhos não terem muita perspectiva de vida, no momento pelo menos, ao lado dela, que se esforça para gostar das crianças. Penso que se ela tivesse a oportunidade, faria tantos abortos quantos fossem necessários, porque ser mãe estava longe, bem longe dos planos dela...De novo os pontos de interrogações me perseguindo. Não consigo descer do muro. E você?

11 comentários:

  1. Eu sou totalmente a favor do aborto. De nada adianta por filhos no mundo se não vai amar, educar e poder dar o mínimo de condição para desenvolver-se. O que falta para nós mulheres é lembrar que não é só "virar os olhinhos", que por conta da sábia natureza, somos nós que temos o dever de gestar a cria. O que falta é aprender métodos contraceptivos, porque se quer fazer amor, dar, meter, qualquer coisa do genero, antes de tudo a mulher tem que saber que corre o sério risco de engravidar, então cabe a ela, só ela tentar previnir isso, pra depois não ter que abortar ou jogar o filho no lixo como muitos casos por ai!

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  2. Nem a ciência tem ainda tem um consenso de onde se começa a vida, sou contra o aborto, mas a favor do direito da mulher escolher se quer ou não fazer. A Liberdade individual acima de tudo.

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  3. Não tem como editar o que escrevi?

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  4. Também penso assim, sou contra o aborto, acho que as informações estão aí e não se previne quem não quer.Depois da gravidez concebida, não há mais o que fazer.Mas acho também que a mulher tem que ter o direito de decidir se quer ou não.

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  5. Olha, Mari, primeiro preciso dizer que o maior perigo, no caso da não proteção, não é a gravidez. Temos muitas doenças, como todo mundo já sabe. Mas a gravidez realmente seja o mais impactante, já que a gente carrega, a olhos vistos, para o mundo ver.
    Sempre fui contra o aborto. Até que, num descuido com meu ex-namorado, pensei que estava grávida. Que contraditório, a primeira coisa que pensei foi em aborto. No final das contas foi só um susto, nada demais. Mas me fez pensar melhor sobre o assunto. Tenho as mesmas dúvidas que você, onde começa a vida? Se abortar, estou assassinando? Mesmo assim, depois de muito pensar, continuo concluindo que o aborto pode não ser a melhor alternativa. Então, concordo com o Teste. Contra o aborto, mas a favor da escolha da mulher.

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  6. Eu sou completamente a favor do aborto, mas, principalmente, da liberdade individual, desde que seja com critério. Se a mulher engravidou e não quer a gravidez, nada mais sensato que dar a ela, que é dona de seu corpo e de sua vida, o direito de prosseguir aquilo ou não, legalmente, sem se submeter aos mais variados riscos.

    É errado engravidar sem querer a criança? É. Mas eu acredito que ainda mais errado é prosseguir, gerar uma criança e não ser capaz de proporcioná-la uma vida decente e, acima de tudo, amor.

    Só que é preciso critério, cuidado, segurança.
    Te entendo perfeitamente, Lari. Às vezes eu também fico em cima do muro e, no meu caso, ficar em cima do muro significou muita coisa. Mas o direito deve estar aí. Escolher fica por conta de cada um.

    E essa vida é muita engraçada, né, dona Paula? Só sabe, ao certo, como funciona, quem já passou por isso.

    Amei o texto. Coerente e bem escrito.

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  7. Há situações e situações. Antes de uma lei com esta ser aprovada, a consciência a respeito do assunto deve ser mais bem estruturada. "Já que pode interromper, por quê prevenir?"
    A dor e o peso de uma interrupção pode também modificar uma vida, assim como levar uma gravidez adiante (que pode modificar várias). Eu me coloco a favor. Com um acompanhamento a cada 'ex-mãe'. Porque é assim, ex-mãe, que alguém, com um mínimo de valor, deve se sentir depois de uma escolha dessas.
    Há quem não tenha planejado e hoje não vive sem o filho. Há quem planeje e fique com uma eterna depressão pós parto. Então acredito que uma atenção extra sobre as mães pode também mudar a forma de pensar e criar seus filhos.
    Muito bonito termos o poder sobre nossos corpos. E a mente? E a consciência?

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  8. Ai, Maju.
    Não sei se rola esse sentimento de ex-mãe, não.
    Quando eu engravidei, tinha só uma barriga saliente e enjoos 24 horas por dia. Mãe mesmo, na minha opinião, só depois que a criança nasce e os hormônios dominam sua antiga personalidade, rsrs (comigo foi assim)... E eu já ouvi a mesma coisa de gente que estava feliz na gravidez, mas depois confirmou que o sentimento depois que a criança nasce é completamente diferente, nem perto daquele que se imagina (para melhor). Só que não é assim com todo mundo, né?

    Quanto à consciência, acho melhor que cada uma tenha a sua. Eu, mesmo sendo a favor e querendo abortar, não o fiz, por opção. Com a consciência suja eu estaria se fosse como o pai, que prometeu um monte de coisa, mas o abandonou.

    Sobre o PNDH, acho que é só uma questão de dar condições legais para alguém que queira, mesmo, fazer isso, com segurança. Porque quem quer, de verdade, compra medicamento pirata e vai para clínicas clandestinas. Com ou sem consciência do que está fazendo.

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  9. Como eu disse, Graci, há situações e situações.
    Pra uma mulher que recebe propostas de ajuda do homem mas, depois de uma traição não consegue confiar nele e opta por um aborto. E aí? Acho que existe um sentimento de ex-mãe. Sabe do mau caráter que não conseguiu identificar antes e escolhe interromper por não querer viver sobre lágrimas. Pode ser que se arrependa, pode ser que saiba que foi a melhor escolha.
    Não dá pra saber o que se passa nessas consciências, né?
    Concordo que, quem não ´pensa com o coração´ o fará legal ou ilegalmente. Por isso o embasamento e conscientização da importancia de métodos contraceptivos.

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  10. Não consigo ser a favor. Sempre que vejo as justificativas não paro de pensar no lado da criança e me pego pensando ..."se não tivesse sido abortada a criança poderia ter sido alguém e tudo mais..." Tudo bem, existem condições e condições, mas sempre vai existir esse "Se não tivesse abortado"... A resposta deste "se" só existiria com a pessoa viva... Portanto... Não consigo mesmo ser a favor.

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  11. Só pra apimentar a discussão: a delinquência juvenil caiu nos EUA 15 anos após a liberação do aborto. Conclusão de quem fez o estudo: A delinquência era praticada por filhos indesejados. Só não tinho que fico em cima do muro porque isso é coisa de tucano...

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