terça-feira, 13 de abril de 2010

Por que morte vende?

Outro dia uma amiga me mandou o link de uma matéria da Folha que dizia que um aluno do 2º ano de jornalismo da UEPG tinha sido ameaçado pelo apresentador de uma tv fechada de Ponta Grossa. O aluno havia escrito uma crítica no blog alimentado pela sua turma para uma disciplina que justamente critica a produção de mídia local e regional. O apresentador do programa, revoltado, resolveu, também, 'criticar' o aluno. Xingou a ele e sua mãe, além de fazer ameaças para quem quisesse ouvir ( o que serviu para deixá-lo famoso, assim como o menino e o blog do 2º de jornalismo), usou de termos de baixo calão e mostrou que o aluno tinha toda razão em ter feito a crítica que fez.
Ok, não vou colocar em questão se foi certo ou errado e o que o aluno deveria fazer. Ou o que eu faria, no lugar dele. O que gostaria de entender é por que programas como esse têm tanta audiência.
Aqui mesmo, em Campo Mourão, temos programas como esse a rodo. Todo mundo que quer ganhar dinheiro com tv tem um programa assim. Por que vende? Por que a gente se interessa tanto por catástrofes? Por desgraça, por morte?
É só ver um acidente que tem aquele bolo de curiosos em volta. E, geralmente, ninguém para ajudar. Parece que o povo quer sangue, sem tarja. Porque, francamente, as granulações que colocam nas imagens não deixam nada realmente granulado. É possível ver perfeitamente as marcas da violência. Não se respeita a imagem de quem recebe a violência nem dos parentes dele. Lembro de uma vez, na faculdade, de uma apresentadora de um programa de tv que contou que era a responsável por tirar as fotos de acidentes no seu primeiro emprego, em um jornal. Ela cobria 'policial' (coloco assim, entre aspas, porque ninguém que saiba realmente cobrir policial faz uma coisa sensacionalista e de baixo nível assim) e sequer se importava com as famílias dos 'presuntos', que viam seus parentes estampados nas páginas do periódico. Até que, um dia, o 'presunto' era o seu próprio irmão. Ninguém quer ver sua família de maneira sensacionalista num jornal, ou num programa de tv. Se quer respeito à sua, porque não respeitas às dos outros?
E não me venha com essa de que o Datena é quem faz jornalismo de verdade. Ou o Ratinho. Ou até mesmo esse Zeca, do RP2, em Ponta Grossa. Ele encheu a boca para dizer que faz muito mais pela cidade do que o estudante de jornalismo. Faz o que? Mostra onde está a violência, nua e crua? Lógico, de maneira altruísta. Tenho certeza de que é apenas pelo bem... do seu bolso. Porque vende. Porque ele tira, em cima das cenas sensacionalistas que mostra, o seu pão de cada dia. Enquanto as famílias continuam com a dor, com a perda, com o caos.
E por que vende? Alguém aí sabe me explicar?!

11 comentários:

  1. Vende, porque é isso que a massa gosta de assitir!
    eu ja fui vitima de um pseudo reporter aqui da nossa cidade! e tambem fui ameaçada pelo chefe dele. Como são gente suja eu resolvi retirar o processo que movia contra eles.
    Infelismente estamos cheios de "urubus" atras da carniça e na escória do povo.

    Inclusive essa parte do jornalista xingando, foi o segundo lugar no top five do CQC.
    e infelismente é isso que vende!

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  2. HOje, infelizmente, o STF determina que não é necessário que se tenha diploma de jornalista para exercer a profissão, dada a liberdade de imprensa, etc...logo, qualquer zé ruela aí pode ir metendo o microfone e a câmera na sua cara aí que tá certo, ocorre porém que, a nossa Constituição nos garante o direito à privacidade, o direito de imagem, o direito de resposta, direito à intimidade, e a indenização por qualquer dano causado, seja moral ou material, por isso, quando acontecer algo que nos afete aqui em CM ou em qualquer outro lugar, procure reclamar judicialmente SEMPRE!

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  3. Vende porque a massa é burra é porque o que o povo quer, mesmo, é espetáculo, ainda que grosseiro.

    Esses dias eu cobri um acidente em que o motorista morreu na hora e o carro foi amassado como se fosse de papel. Ao ouvir a notícia no rádio, pegar minha câmera e pedir para me levarem até lá, respirei fundo. Sò fui porque é meu trabalho e o fiz da maneira como acredito ser decente, sem sensacionalismo. Se eu tivesse escolha, não teria ido, assim como nunca paro para assistir episódios parecidos.

    O que me achou a atenção foi que uma das meninas que trabalham aqui na empresa, na hora ficou superinteressada e disse que se ela estivesse de carro, ela mesma me levava, só para ir ver. Sério, gente.

    Quando eu voltei, voaram para ver as fotos. No site, em menos de uma hora, foi enorme a quantidade de acessos. Tem matérias interessantíssimas, mas as pessoas só compram quando tem algo do gênero. Foram 300 acessos para a matéria do acidente, 5 ou 6 para as outras, em uma hora.

    É triste...

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  4. Sou contrária a este tipo de produção. Não sei responder porquê que morte vende. Sangue, fratura exposta, quanto mais doloroso para a vítima, mas interessante fica para o público - que aplaude os grande "repórteres". A função do jornalismo é denunciar, informar, retratar aquilo que é de interesse público. Prostituição, alcoolismo, violência doméstica, acidentes de trânsito são de interesse público. Contudo, a forma como esses temas são abordados por esses tipos de TVs não satisfazem ou condizem com à técnica jornalística. Jornalistas não são deuses, como o repórter de PG afirma - e até mesmo satiriza. Somos profissionais da área, e, claro, embora errantes, temos o conhecimento necessário para discernir o que é ético e o que não é. O que é notícia e o que é abuso.
    Lucas, o estudante de jornalismo criticado em rede nacional (o vídeo foi para CQC), tem o meu apoio. Até achei o artigo singelo, discreto. Se eu tivesse escrito o texto dele no contexto de Campo Mourão, com certeza minhas palavras teriam sido mais ardidas, mais intensas.

    Por favor, desliguem a TV. Simples.

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  5. Bom, deve ser curioso porque comumente não vemos imagens de sangue jorrando a toda hora. Costumamos andar inteiros por aí. Pequeno comentário sem pretensão que surgiu que é claro que não justifica. Eu particularmente tenho repulsão a isso. Falta educação de qualidade pra aguçar o senso crítico.Precisamos querer comida, diversão e arte...

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  6. Por que vende? Acho que pelo mesmo motivo que os antigos iam às Arenas de Gladiadores para ver o sangue de escravos capturados em batalha jorrando. Acredito também que seja pelo mesmo motivo que faz o homem sentir-se bem após assistir filmes de terror. A tal da catarse grega, que significa "purificação" ou "purgação". Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama.
    Isso sempre vai existir, não adianta querer não noticiar. O que deveria acontecer aqui em CM, e em outras cidades é melhorar a qualidade. Não é pq você pode tirar a foto de um cadáver em decomposição que ela deva ser tirada e mereça destaque na capa do jornal. A ética deve estar em como a notícia é dada, o que é mostrado. O povo sempre vai querer ver sangue, mas você como jornalista deve dosar a quantia saudável a ser mostrada.

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  7. Calma, meninas! A morte não vende tanto assim. Esses programas policiais em rede nacional têm audiência baixíssima. Cinco pontos no máximo. Os jornais de maior circulação não são os jornais sensacionalistas.
    Programas estilo Datena vivem mudando de horário e de canal. Não se sustentam. Nós é que damos muita importância a eles. Por que o programa "Aqui Agora", o maior sucesso do gênero, acabou? Por falta de audiência. Olha o Ratinho o que é que virou. Quatro pontos de audiência! O que fica é o "clássico", o que é bom. O que é ruim dura pouco.

    Esse programa de Ponta Grossa aposto que não tem audiência nenhuma. Em Campo Mourão, os programas policiais têm boa audiência, mas a culpa é nossa mesmo, que não vamos lá e não produzimos coisa melhor.

    Se os ruins estão ocupando os espaços, é por conivência dos bons. Vamos refletir!

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  8. Ai, Sid, na mídia impressa e pequena, vende.
    Aqui em Canoinhas isso é incontestável. No caso dos programas televisivos, aí, sim, é outra história.

    Mas como eu nunca perdi meu tempo com isso na televisão, só com as novelas da Globo que eu não consigo mais assistir (Paulinha, isso é a minha catarse, haha) nem tenho argumentos. Mas, vamos ver... A capa do jornal amanhã tem uma foto lin-da, de uma matéria bem interessante. Duvido que venda como a do carro destruído!

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  9. Eu concordo que a tragédia chama a atenção. Mas acredito que há uma explicação pra isso. E se trata da curiosidade pelo diferente, inusitado e, por vezes, trágico. É humano. Ou de alguns humanos.
    Concordo com o Sid quando ele diz que programas assim não vão pra frente. Mas a certeza de que vende é tão presente, que atrás de um programa falido, estreia-se outro com temas tão baixos quanto o anterior.

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  10. Olha, Maju e Sid, concordo com a Graci quando ela diz que não vende na grande mídia. Porque, na pequena, vende, e muito. O jornal que eu trabalhava na Bahia duplicava a tiragem quando tinha morte na capa. E vendia todos os exemplares, incrível. Em dias sem mortes, acidentes ou grandes prisões, mesmo com metade da tiragem, sobrava um monte de jornal.
    Isso sem contar os programas mais populares da tv baiana. Assim como os mais populares de cidades pequenas. Todos têm sangue e vende, sim. Pode não ir pra frente no sentido de melhorar, mas que, pra quem apresenta, dá um rendimento danado, ah, isso dá...

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  11. Claro que as pessoas têm curiosidade (jornalismo vive disso). Na mídia local, o público quer saber quem morreu, quer ver a cara dele, quer saber se é alguém conhecido. Um carro destruído num acidente chama a atenção. Ainda mais se for o carro de alguém que vc conhece, que é da sua comunidade.
    Agora, o que o jornal vende a mais por isso é insignificante em termos de faturamento. Por isso essa mídia sensacionalista não tem vida longa. Em resumo, o que estou querendo dizer é que esse "vender mais" é relativo. E o que é apelativo tem sucesso apenas momentâneo.

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