
“As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”, já disse Vinícius de Moraes em sua tradicional Receita de Mulher. Para o Poetinha, a presença de “qualquer coisa de flor nisso tudo” condecorava a mulher ideal, aquela que combinava o que seria essencial de haver em todas. Algo um tanto irreal, concluo.
Amantes ou não de poesia, cada um tem sua receita e cada mulher, a curiosidade de sabê-la, mesclada com a pretensão de atendê-la. Assim eu li a descrição da mulher ideal para o Ivan Martins. Não sem frustração percebi de imediato que eu não era a mulher ideal para ele. Não daríamos certo. Dentre as várias características que eu não tenho, leveza definitivamente não me define, embora a carga dramática e a languidez dos olhos tenham diminuído gradativamente e eu já consiga ver o mundo com avidez e curiosidade. Não a suficiente para que eu passe por cima de coisinhas que, para mim e para o Marcelo Rubens Paiva, colocariam tudo a perder.
Caso é que comecei a pensar no homem ideal para mim, calculando variáveis que certamente o destino não se encarregará de analisar. E embora essa definição venha sendo construída há anos, confesso que não deixa de ser confusa - e irreal, claro, tanto quanto à famosa receita. Primeiro porque meu homem ideal não tem um padrão definido e consequentemente, nunca é aquele que me tira o fôlego. Fosse assim, inteligente e focada na hora de me envolver com alguém, não teria passado tanto tempo sofrendo por uma pessoa que em nenhum quesito se encaixou no que eu queria. Sim, pode ser didático enumerar as características da pessoa ideal - e, claro, aprender a dizer não para quem não se encaixa em nenhuma delas.
Meu homem ideal não precisa ser alto, moreno, magro e usar óculos, mas, sei lá por qual motivo, sempre babei nos nerds. E jamais me envolvi com um deles. Minhas definições de beleza são peculiares demais para que encaixem em algum padrão, então, nem vale a pena pensar nisso. Deixo para Hegel a missão de descobrir o que é o belo. Para mim, ele está exclusivamente ligado ao que eu não conheço inteiro. Ele deve ser INTENSO, aparentar um pouco de drama e ter uma inconfundível carga de mistério e melancolia no olhar. Não suportaria alguém a passeio.

É elementar que escreva - e muito bem - porque, inevitavelmente, me apaixono antes pelas palavras (vide meu amor incondicional por escritores). Fundamental que não tenha vícios lingüísticos, que goste de literatura (e não inclua nisso auto-ajuda), que tenha bagagem e interesse em discutir comigo aquele traço que ninguém fez conta de notar. Não precisa escrever poesia, mesmo porque acho os poetas muito inconstantes, mas seria interessante se gostasse. Se não gostar, mas se interessar pelo meu Vinicius, vai ganhar pontos, bem mais do que se passar por ele com rimas pobres. É, ele precisa ser INTELIGENTE e CULTO.

Meu homem ideal não precisa saber cozinhar nem lavar com precisão, no outro dia, a louça do jantar especial que eu farei de bom grado cotidianamente. Antes disso tem de ser COMPANHEIRO e me surpreender na cozinha com um abraço quente enquanto eu observo o ponto do molho, quem sabe até se oferecendo para cortar algum legume, fora do meu método, e correr o risco de me irritar com isso.
Ele tem de entender, mesmo que com esforço, que eu posso ser prática em um momento e metódica nos demais, uma dicotomia que anda. TOLERANTE, não deve tentar me convencer de verdades que para mim não existem. Não pode levar tudo ao extremo, mas não pode parar no meio termo, porque aí já estou eu. Ele tem de me surpreender, pegar minha mão e me levar a enxergar mais que as 24 horas habituais de planejamento que tenho para o futuro. Se escolher o sabor do sorvete ou do suco, o local do jantar ou o destino da viagem de férias, tanto melhor, gosto de quem é DECIDIDO, isso me ajuda muito, cobre a lacuna do não sei ou do tanto faz que mantenho na vida.

É elementar que seja LEAL, que eu possa confiar nele indubitavelmente. E que deposite a mesma confiança em mim. Que entenda a minha carência que não acaba. Que seja bom, o contrário de ruim e mesquinho. Que entenda que eu posso até ter pensado nisso tudo como ideal, mas que o amanhã é outro e as prioridades podem mudar.
Eu poderia citar mais dezenas de predicados, mas acho que isso só complicaria a questão. É um pouco insano apostar as fichas em uma procura por alguém que caiba exatamente no seu sonho, como já cantava Cazuza.
Mas, daí que eu fico curiosa: para você existe a pessoa ideal?
Quem é o seu homem ideal?
P.S.: dos moçoilos das fotos, deixo para vocês o Van Damme (uma gracinha de intelecto, né? Leva para casa!).
Os outros são o o Antonio Prata, o Marcelo Rubens Prata e o Ivan Martins. Grandes paixões, homens ideais, quem sabe. Não custa sonhar, né?