sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Toda dor do mundo



Há seis anos, chorei no instante em que vi essa foto.
Parei, hipnotizada olhando a capa da revista e naquele dia decidi que não queria, mesmo, ter um filho e menos ainda continuar num mundo capaz de fazer aquilo com uma criança. Com tantas outras crianças.

Não cumpri o que prometi.
Hoje tenho um filho e ontem, ao ver a mesma foto, chorei novamente. Tive mais uma vez vontade de morrer para não sentir tanta dor, mas não teria coragem, não com alguém para preservar da dor sob minha responsabilidade.

Poucas coisas me marcaram mais que o ataque à escola de Beslan, na Rússia. Para quem não sabe ou não lembra, mais de 300 pessoas - a maioria criança - morreram em um ataque covarde, digo eu, desumano, contra uma escola. Nesta semana, o ataque completou seis anos e o local da chacina recebeu homenagens.

Não é de hoje que me desiludo com tanta coisa, que me sufoco com um nó no peito - que não desata. E algumas coisas, como a foto da mãe de Beslan, provocam essa angústia que grita com urgência. As crianças na carrocinha do lixo que passa aqui na frente de casa, o homem desmaiado no banco ao lado dos brinquedos do parque, os meninos drogados da praça, a falta de opção e perspectiva de felicidade para tanta gente - essa que desfaz a minha.

Não sei, gente, porque tanta coisa ruim. Não sei porque escrevi esse post, para relembrar ou para expor o medo que sinto todos os dias. Eu, que acredito em tão pouca coisa e tinha medo de menos ainda, fico no chão.

Com a diferença que agora tenho por quem levantar.
Te prepara, Wal. Agora você tem um mundo na sua barriga.

4 comentários:

  1. Eu sou uma tia muito coruja... mesmo dos meus sobrinhos mais velhos... mas mesmo assim, tenho certeza de que não consigo sentir isso da mesma maneira que vc...

    Talvez pelo meu gatinho, que eu considero um filho?!?!?

    Quem sabe um dia!!!

    Beijos

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  2. Ah Graci, as vezes faz bem expor os medos!

    Eu nem sei se posso dizer que eu imagino como isso é Graci, pq a cada dia eu vejo que estar grávida não é nada daquilo que eu imaginava.Deus desperta um amor que jamais eu tive contato.É divino!

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  3. Às vezes parece que desistir e se acomodar é a única forma de relaxar os músculos do coração.
    Dói. Mas tem tanta coisa boa pra ensinarmos e aprendermos.. talvez isso amenize um pouquinho.

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  4. Ai, Graci, amo tanto as minhas crianças (e óbvio que nosso Polaco tá nesse pódio) que tenho medo de ter ua gerada por mim... Porque, se dói a possibilidade de alguém machucar qualquer uma dessas, que não saiu do meu ventre, imagine quando eu carregar um mundo inteiro em mim? Entendo o seu medo, talvez não com a mesma intensidade, mas com a mesma vontade de que o mundo seja um lugar melhor. Sempre.

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