quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Com amor, paixão ou só sexo mesmo



Use camisinha, recomenda o Ministério da Saúde. Não pondere as decisões para ir para cama, sugere o slogan, desde que seja acompanhada de proteção. Isso mesmo: libere-se.

Sim, é carnaval, tudo pode, mas a banalização do sexo tem me incomodado há um tempo, independente da campanha da camisinha. Nesta semana, enquanto esperava em uma clínica folheei a Cláudia e li um artigo da Danuza Leão (que eu achava fútil quando pesquisava sobre Samuel Wainer, seu marido, mas aprendi a respeitar pela sinceridade com que se revela) que falava justamente sobre isso: a falta do algo mais para ir para cama com um homem, “uma razão forte, mesmo que fantasiada”, como ela defendeu, ou uma confusão entre “atração física, amor ou ideologia”, tanto fazia.

Fiquei pensando nisso até assistir à campanha do Ministério, ontem à noite, enquanto cozinhava. Não deveria, mas fiquei chocada e sei que vou receber o rótulo de careta, inevitavelmente. Mas eu estou cansada de ver tanta coisa, com gente tão nova, e ter de diminuir as expectativas a cada dia quando penso em um relacionamento.

Ir para a cama (para o chão, o banco do carro ou algum canto escondido da boate, como preferir) hoje me parece ser uma questão fútil, quase a regra, independente dos jogadores. É mecânico. Ocorre uma vez, duas, até que se tornam o padrão, não à exceção pontuada por adrenalina. A distância entre conhecer alguém e dividir os mesmos lençóis, acredito, diminuiu muito e deu poder sexual às mulheres, o que é bom. Talvez não tanto.

Sexo é bom, não disse o contrário. Poder escolher é fantástico, principalmente quando há a opção por não ter de fazer tudo igual e sobra um pouco de encanto, mesmo que fantasiado, como bem disse a Danuza. Triste é ver todo mundo fazendo a mesma coisa, as meninas cada vez mais novas se entregando a parceiros tão jovens quanto, igualmente sem uma pontinha de qualquer que seja do algo mais, sem nem uma porçãozinha de pudor. Sem romance, sem encanto, sem poder dizer não sem ser taxada de careta ou frígida.

Faça sexo, desde que seja com camisinha, não importa com quem, me diz o slogan. Não olhe mais nos olhos á distância, não suspire porque sua mão foi segurada de leve no cinema, não espere por um maço de flores com um bilhete, não seja tola de querer mais que uma noite, mesmo depois do carnaval - o ritmo cadenciado das implicações martela meus pensamentos.

Eu não gostei e não sou puritana. Na minha singela opinião, as pessoas devem ser livres para fazer suas escolhas, em qualquer âmbito, o que implica em não criar comportamentos coletivos e sugestioná-las a associá-los às decisões, tomadas com caipirinha ou não. Teria a mesma opinião, caso a liberdade extrapolasse na outra ponta.

Vá para cama com alguém neste carnaval ou em qualquer época do ano, somente se quiser, e aí sim, impreterivelmente, use camisinha. Se preferir, escolha com um algo mais. Serei eu a última romântica, apesar dos pesares?

3 comentários:

  1. Graci, amei. Amei como você coloca as coisas e como eu não tinha visto isso olhando a propaganda do Governo. E é verdade, sexo está se tornando cada vez mais banal, cada vez mais 'selvagem'... e uma das únicas coisas que nos separam dos animais, o sexo com algo a mais, não por instinto, está ficando mais raro a cada dia. E isso pode, sim, ser bom. A curto prazo, acredito. Porque quem se preocupa com a diversão ali, na hora, talvez se esqueça de que outras coisas existam. Como você disse, o olhar à distância, o pegar nas mãos. Sexo é bom, sim, mas não é o melhor. E não deve ser sozinho, seco.

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  2. Caramba! Sabe aquela coisa que depois de ler a gente pensa "Eu poderia ter escrito isso"?
    E justamente porque tudo se encaixa, palavra por palavra...
    Gracita, se és a última romântica, eu contribuo com uma flor para o teu absurdo buquê...

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  3. Adoro seu textos. Fã de Gracinilda.
    Use camisinha. Pronto, tá todo mundo usando e em ritmo acelerado...

    Sou suspeita a falar, adoro um romance. Prefiro aquele friozinho na barriga do que um sexo casual, é muito intantâneo, perde a graça fácil. E a graça, para mim, tá além.

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