quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O que você espera de 2010?

“Espero recuperar os movimentos dos meus braços para voltar a trabalhar, quero paz, menos violência. Saúde.” Foi assim que um dos alunos da minha mãe respondeu a questão “O que você espera de 2010?”. Intrigada, ela foi perguntar o que tinha acontecido com o braço dele. Ele respondeu, sem raiva, normalmente. Com um certo receio contou a causa da cicatriz do seu braço direito: o padrasto.
Aos 14 anos João apanhou do padrasto, que, bêbado, usou o martelo para lhe surrar. As marteladas foram tão intensas que o menino teve que fazer inúmeras cirurgias, colocou pino, perdeu um tanto da sensibilidade nas mãos e um tanto dos seus movimentos braçais. Por causa da surra ele também perdeu o emprego. Mesmo novinho, ele precisa trabalhar. Sofreu durante a surra, depois da surra e hoje tenta se recuperar dela.
Segundo o Ministério da Saúde, as agressões constituem a principal causa de morte de jovens entre 5 e 19 anos. A maior parte dessas agressões são oriundas do ambiente doméstico. A violência doméstica é tão comum que a Unicef estima que, por dia, 18 mil crianças e adolescentes sejam espancados no Brasil. De acordo com os dados, os acidentes e as violências domésticas provocam 64,4% das mortes de crianças e adolescentes no País.
Os dados me chocam. Daí me recordo de João. Penso que ele está na faixa etária dos jovens que morrem por agressão, que ele sofre de violência doméstica, que o padrasto dele pode matá-lo e que ele pode fazer parte dos 64,4% dos mortos por agressão. Me dá medo e sinto um aperto enorme no peito, por, de imediato, não poder fazer nada.
A mãe do João quer voltar com o padrasto, que ficou preso por um tempo por causa da surra que deu no menino. O menino? Continua torcendo para que neste ano os movimentos do braço dele voltem, ele quer trabalhar para sair de casa, antes que seja tarde demais. “Se ele voltar, vai me matar, professora”.
Estou na torcida para que o braço dele fique bom. É isso que eu quero para 2010. Ah, também desejo que mulheres como a mãe de João se conscientizem de que violência não faz parte da rotina. Quero que entendam que a felicidade mora bem longe de tapas, surras e agressões psicológicas. E, você? O que você espera de 2010?



Ps: a música é o meu mantra para o João, para ele não esquecer da obrigação de ser feliz. Um pouco de fantasia também, pois ele não deve se permitir voar tanto.



6 comentários:

  1. caramba! Sabe aquela agonia, impotência? Tô me sentindo assim.
    Energia e pensamento positivo para o João. E um pouco de juízo para a mãe apaixonada.
    Muito triste :(

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  2. Uma vez fui fazer uma matéria num sentido parecido, flor. E fiquei indignada. Porque algumas mulheres acreditam que o parceiro é o único do mundo, e por isso não podem largar. Filho não, vc faz outro, se quiser. É triste, mas é a realidade. Que o João possa superar essa fase, e que viva uma vida bem melhor. Pra sempre.

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  3. São coisas como essas que nos fazem refletir acerca das nossas prioridades. Pensamos e matutamos tantas e tantas porcarias e deixamos de lado problemas tão emergentes. Não podemos mudar drasticamente esta e outras situações complicadas mas podemos tentar amenizar alguns. Mais humanidade, por favor!

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  4. Eeeeê João... A gente só pode ficar na torcida, infelizmente!

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