quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

É, existe coisa pior!


Você já viu alguém parado, olhando para o vazio e pensando? Isso nem é assim tão raro de acontecer comigo, esteja onde eu estiver. Sabe aquela situação em que você lê ou ouve alguma coisa que te faz parar e pensar, realmente pensar? Bom, isso aconteceu na segunda-feira, véspera de feriado de Carnaval, grande parte dos brasileiros em casa a tarde, e eu no trabalho.
Surge então o pedido do meu amigo para eu ajuda-lo a entender um e-mail de uma garota africana e responder para ela. Esse meu amigo é produtor musical e tinha recentemente colocado sua música em um site internacional de Djs.
E foi nessa hora que nós dois paramos e até conseguir pensar no que responder demorou um certo tempo. Seja golpe ou não, vamos à história da menina!!
A garota de 22 anos gostou muito da nova música do meu amigo e resolveu contactá-lo. Ela morava no Sudão até recentemente quando os pais morreram em um acidente de avião. O pai era assessor especial do ministro de defesa e estava indo para uma conferencia militar em Maio de 2008.
Com a morte dos pais, e sendo a única herdeira, ela deveria ter direito a herança, mas como estamos falando do Continente Africano, as coisas podem ter sido um pouco diferentes, e segundo ela, foram.
Miss Yak, como assina o e-mail perdeu o direito a todas as propriedades para um tio, pois como é mulher, não precisa de dinheiro. Ao tentar entrar na justiça pelo dinheiro, o tio tentou resolver o conflito da forma mais direta, mandou assassinar a garota.
Para continuar viva, ela mudou para o outro lado do continente e foi morar em um Campo de refulgiados em Dakar, no Senegal (exato este é o local original de término do Rally Paris Dakar).
Até esse momento, já tinha chamado atenção do meu lado feminista o fato da mulher não ter direito ao que era dos pais justamente por ser mulher. Mas o pior, foi quando ela resolveu contar um pouco da rotina do acampamento. Segundo ela lá, leva os estudos muito a sério e adora cozinhar QUE ESTE É O PAPEL DA MULHER.
Tentamos descobrir um pouco mais sobre a história e graças ao Google, descobrimos que realmente um homem ligado a política do Sudão chamado Justin Yak e sua esposa morreram no acidente de avião que realmente aconteceu. Quanto ao campo de refulgiados também existe, mas sobre a filha nada apareceu. Por isso, sendo golpe ou não, não descobrimos, só podemos desconfiar, mas por enquanto ela não pediu nada.
Deixando essa possibilidade de lado, sabemos que existe mulher no mundo sofrendo muito mais do que isso e o pior, achando que deve ser assim mesmo. Nessa hora, como achar que a mulher evoluiu? Papel da mulher é cozinhar? Um homem falando isso nós entenderíamos, mas ela foi prejudicada imensamente pelos costumes machistas e algumas linhas depois faz um comentário validando esses costumes?
Depois desse acontecimento lembrei-me de uma matéria que li em uma revista sobre a mutilação feminina e, curiosamente, hoje quando entrei no CRN, tinham colocado em destaque justamente uma matéria sobre essa mutilação, contando histórias de que quem faz isso com as meninas, são as mulheres que já passaram por isso, sabem o sofrimento que isso representou, conheceram histórias de complicações que acabaram com a vida de diversas pequenas mulheres e submetem as suas meninas, àquelas que como mães tem o dever de proteger, a esse procedimento. Quando mulheres crescem achando que essas são coisas normais, como reclamar do local onde vivemos? Será que se tivéssemos nascido em algum lugar onde essa mentalidade é natural, esse blog teria essa característica? Não sei, só sei que o e-mail da Miss Yak me fez pensar e muito.
Sobre a resposta a ele? Lógico que como eu ajudei a redigir, coloquei várias sugestões de como as mulheres agem e pensam aqui no Brasil (meu amigo acabou concordando comigo depois de uma pequena discussão corriqueira)! Se não for um golpe o e-mail, quem sabe sirva para que a garota pense nisso, e se for um golpe, bom... ensinamos um pouco de feminismo aos golpistas!

5 comentários:

  1. Situação difícil hein...
    Isso nos faz repensar nossos ideais e nossas certezas absolutas.
    O mundo é bem maior do que imaginamos...

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  2. É incrível isso, né? E a gente nem precisa ir muito longe, Ana, para descobrir tantos outros universos.

    Se a menina for real, que sua contribuição consiga abrir novos horizontes para ela.

    =)

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  3. Ana,
    adorei!

    Pois é, existem muitas realidades diferentes da nossa... agradeço por morar aqui!

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  4. Gentes, não falei que não precisava ir muito longe?
    Acabei de voltar de uma entrevista com uma mulher incrível. Aprendeu a ler e a escrever faz pouco tempo, vai continuar e espera ter uma profissão em breve. Amei sentir o orgulho nos olhos dela por todas estas conquistas que, para a gente, chegaram sem muito valor. E ela me falava, indignada, sobre a cunhada, que não quer nada disso “porque não precisa para pilotar fogão” e dos maridos que não “deixam” que suas esposas voltem a estudar. Machismo, segunda ela mesma disse.

    E isso aqui do lado, nesta mesma cidade, em um dos estados com maior IDH do País. Quantas mais pensam que a vida é só pilotar fogão e cuidar de filhos?

    Bjos, garotas!

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  5. Ai, Ana, eu tinha ficado chocada quando vc me contou essa história. Sabe o que deixa mais indignada, minhas queridas, são mulheres que, depois de vividas, resolvem contentar-se simplesmente com o servir o marido, sem nada ou com pouco em troca. Porque a vida é assim...
    Bom, que possamos fazer uma revolução, mesmo que mansa, mesmo que sem sutiãs queimados, para que o mundo seja igual. Para que tenhamos os mesmos direitos. Lógico, com tantas responsabilidades quantas forem necessárias. Pra ambos.

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